terça-feira, 27 de julho de 2010

Entrevista com a mémoria John Dewey

Estou entrevistando a memória de John Dewey, um filosofo pragmático que influenciou e talvez ainda influencie a educação e a concepção que temos sobre a melhor forma de educar para autonomia do ser.
Entrevista ao filósofo americano John Dewey com base no livro "Reconstrução em Filosofia".

O que é filosofia?
Para essa pergunta acho mais apropriado dizer que ela começa de algum profundo e amplo modo de responder às dificuldades que a vida apresenta, porém, desenvolve-se apenas quando o material esteja à mão para fazer com que essa resposta se torne consciente, articulada e entusiástica.


A filosofia deve sofrer mudanças?
Sim, pois ela deve estar ajustadas ao presente deve tratar daqueles problemas que resultam de mudanças que se processam num setor humano-geográfico em escala cada vez mais ampla e com poder de rapidez e de penetração cada vez mais intenso.

Essa filosofia atenta as mudanças é também um desligamento das antigas formas de filosofia ou sistemas? Essas filosofias falharam em seu tempo?
De inicio é preciso dizer que esses grandes sistemas antigos são dignos de apreço e admiração nos seus próprios contextos sócio-culturais. Mas é importante ao tema da reconstrução necessária da filosofia declarar que as criticas das filosofias do passado não são dirigidas a esses sistemas pela sua ligação com as questões intelectuais e morais do seu tempo ou lugar, mas sim pela sua incidência numa situação humana fundamentalmente alterada.

Que tipo de alteração que o senhor alude?
Vivemos num mundo que difere nos seus traços principais daquele evidente há algumas centenas de anos, diferença que se pode notar a importância da revolução científica, industrial e política dos últimos poucos anos.

É óbvio que há uma ruptura entre os modos de conhecimento do passado com os dias atuais? Mas afinal o que isso reflete na filosofia? Há algum aspecto que a filosofia manteve-se inalterada?
É um resposta demorada, mas vou tentar ser breve, veja que as teorias do saber que se desenvolveram antes da existência da investigação científica, não forneceram nenhum padrão ou modelo que possa ser aproveitado para uma teoria do conhecimento baseado no processo real da pesquisa em nossos dias, da mesma forma que os sistemas antigos refletem tanto modos de ver pré-científicos do mundo natural, como a situação pré-tecnológica da indústria ou como a situação pré-democrática da política no período em que suas doutrinas tomaram forma.

Não entendi é possível exemplificar o que acaba de dizer?
Pois não, as condições reais de vida na Grécia particularmente em Atenas, ao tempo em que se formulava a filosofia clássica européia, são um exemplo vivo da divisão que existia entre a ação e o conhecimento, divisão essa que redundou numa generalização da separação entre teoria e prática. E veja ainda, que tal divisão refletia, na época, a organização econômica já que o trabalho útil era grandemente executado por escravos, dele se isentando os homens livres que eram “livres” exatamente por esse motivo. É evidente que tal estado de coisas é também pré-democrático e se alterou nos dias de hoje.

Mas falta responder o que a filosofia herdou desses sistemas?
É só pensar nas questões políticas ainda do tempo da Grécia Antiga, pois nessa matéria os filósofos mantiveram separadas a teoria e pratica, muito depois de os instrumentos e os processos derivados das operações industriais já se haverem tornado fontes indispensáveis como guia de observações e experiências que são o próprio vamos dizer, coração do conhecimento cientifico. Outro ponto é que os sistemas do passado invariavelmente se consideraram e se apresentaram ao público como tendo por objeto qualquer coisa que definiram como, alternativamente, por Ser, Natureza ou o Universo o Cosmos em geral, a Realidade, a Verdade. Qualquer que fosse a definição usada esses sistemas se distinguiam por um traço comum, o de tratarem de qualquer coisa fixa, imutável, e, portanto, fora do tempo, isto é, eterna. Esse sentido de atuar em função do eterno e do imutável constituem a razão de sua crescente desestima junto ao povo e a falta de confiança em seus propósitos. Com efeito, a égide sob que exerce suas atividades foi repudiada pela ciência, e ela só encontra ampara efetivo nas velhas instituições, cujo prestigio, influencia e emolumentos de poder, dependem da preservação da velha ordem.


Voltemos a essa nova filosofia que o senhor propõe, que mudanças são necessárias ou quais rumos deve ela tomar?
Essa pergunta é primacial e também me permite aprofundar a questão anterior, é fora de duvida que o aspecto relevante e radical da reconstrução que tratamos diz respeito a teoria do conhecimento, ou seja, investigação adequada, isso porque cabe a nova teoria determinar o processo mediante o qual o conhecimento deva ser levado adiante, esse conhecimento deve ultrapassar de vez a suposição que o conhecimento deva adaptar-se a opinião sobre as faculdades dos órgãos ou como se existisse uma faculdade detentora exclusiva do conhecimento das verdades finais. Em síntese entendo que investigação adequada abrange vastos métodos de observação, em constante crescimento, provas experimentais e raciocínio reflexivo. Mesmo as teorias empíricas com suas crenças pré-formadas a respeito da percepção sensitiva, deve buscar subordina-las aos dados oferecidos pelo progresso da investigação cientifica. Deixa-me dizer mais uma coisa que é o fato da ciência trocar a fixidez de um critério hipotético pela investigação como processo e isso ultrapassa o meramente técnico pois é realmente a descoberta mais revolucionária até agora feita.


A ciência e o processo científico de investigação pode penetrar em todos os campos de atuação humana?
Existe ainda uma reação emocional ou sentimental na sociedade ao reconhecimento do ponto e vista e discernimento que já penetram e se afirmam na ciência natural, isso é patente. A moral é vista como portadora de princípios extratemporais, imutáveis, padrões, normais, fins, como única proteção eficaz contra o caos moral, não pode apelar para a ajuda da ciência natural, nem pode esperar justificar pela ciência na pratica ou em teoria as considerações sobre moral, ela se acha desligada das considerações sobre tempo e lugar, isto é, dos processos de mutação. Veja que chegamos ao ponto que é quase instransponível, pois de uma lado o tema natural da ciência, do outro, o tema extranatural ou supranatural da moral.

Já que abordou essa divisão entre moral e ciência, o que de fato é necessário a essa superação?
Primeiramente isso é uma demanda social, pois é de crer que a sociedade está preocupada diante das conseqüências que podem advir dessa cisão que decerto, aceitariam de braços abertos uma mudança desses pontos de vista ortodoxos. Essa superação está numa moral que aceite na pratica e em teoria as conclusões da ciência natural, para se chegar a isso basta que igualmente aceita a opinião de que seu objeto de consideração possa abranger igualmente aspectos espaciais e temporais.


Mas a ciência não persegue também esse universal, não seria isso uma inconsistência em sua defesa dos métodos científicos?
Veja bem, quando se fala em universalidade das teorias cientificas, é necessário compreender que na se está aludindo a um conteúdo inerente fixado por Deus ou pela Natureza, mas ao âmbito de aplicabilidade, ou seja, a capacidade de tirar os casos de seus isolamento aparente com fim de ordena-los em sistemas que a exemplo do que ocorre em todos os seres vivos provem sua qualidade vital, pelo gênero de mudança que se denomina crescimento. Do ponto de vista da investigação cientifica, nada há que mais invalide o direito a um reconhecimento da própria autenticidade do que a pretensão de considerar finais as suas conclusões e , portanto, insusceptíveis de uma evolução. A ciência é a procura não a conquista do imutável.


Pode-se dizer que há uma ruptura entre filosofia e ciência isso sempre foi assim? Em que consiste isso?
Não acredito que haja uma ruptura, talvez um distanciamento, o que oferece especial interesse para mim é o sentido e a aplicação do que se disse dos homens de ciência com relação ao trabalho da filosofia. Mas podemos dizer que no inicio dos novos movimentos em prol de um novo tipo de conhecimento era tênue a linha divisória no que se convencionou chamar de hipótese do campo cientifico e especulação filosófica, esse ultimo, em geral num tom de menosprezo. A luz dos próprios contextos culturais, as hipóteses aventadas por figuras hoje admiradas como grandes filósofos abrangiam um campo maior de referência e possível aplicação e não tinham a pretensão ao qualificativo de técnica diferentemente dos modos de investigação dos homens que introduziram grandes e destrutivas inovações na ciência. A distinção entre ciência e filosofia foi ficando clara, pois o caso da ciência é quando seu campo de atuação é tão definido, limitado e direto, mas claro, malgrado o tumulto emocional ocasionado por seu aparecimento, como aconteceu, com a teoria de Darwin. E denominou-se filosófica quando sua área de aplicação é tão extensa que na seja possível enquadrar-se em formulações de contorno e conteúdo tais que possam ser aproveitáveis na conduta imediata da pesquisa especifica. Mas deve ser considerado que o trabalho executado pelos homens cujos nomes agora se inscrevem de preferência, nas historias da filosofia mais do que nas da ciência, teve um papel preponderante no propiciar um clima favorável no começo do movimento cientifico, do qual saíram a astronomia e a física, que se desalojaram da velha cosmologia ontológica. A virtude da filosofia foi a discussão embora não tenham atingido o ponto de apresentarem características de cientificas, mas o seu valor discursivo se expressa no auxilio prestado, sem o qual a ciência na seria o que é hoje.


A filosofia sempre foi tida com um mecanismo de desassossego ou propiciadora de questionamento e capaz de balançar fundações esse seria algo que a diferencia da ciência?
Não penso totalmente dessa maneira, eu diria que essa é também uma virtude da ciência, não é preciso ser profundamente erudito para se dar conta de que na época do nascimento cientifico esta nova ciência foi considerada uma agressão contra a religião, bem como a moral que se achava intimamente associada a religião da Europa Ocidental. Agressões análogas se seguiram com à revolução na biologia que se iniciou na século dezenove. Contudo é importante notar que os fatos que ocorreram no alvorecer da historia da ciência foram suficientemente sérios para serem intitulados como o conflito entre religião é ciência. Entretanto, o alcance desses fatos é limitado, quase técnico, diria que quando colocado em cotejo com o que atualmente vem acontecendo em conseqüência da aplicação mais generalizada da ciência vem tendo na vida.

O senhor me parece muito indulgente para com a ciência?
Na estou sendo indulgente mas buscando ser rigoroso na avaliação do papel da ciência na sociedade, penso que a ciência atualmente tem uma pressão e alcance maior que antes, sua aplicação é mais difusa, alias aplicação que esta tumultuando todos os aspectos da vida contemporânea, começando da posição da família da situação das mulheres e crianças e , passando pela conduta e problemas da educação, pelas belas-artes, pelas industrias, vem atingindo as relações econômicas e políticas de caráter nacional e internacional. Essas transformações são tão variadas, tão múltiplas e rápidas que não se prestam a um definição em termos gerais. Ademais, ao ocorrerem apresentam tantos e tão seios problemas de ordem pratica a exigirem pronta atenção, que os homens, ao enfrenta-los um por um, tornam-se tão absortos que não encontram tempo para levar avante uma observação generalizada ou intelectual deles. Esses fatos e problemas, vieram de surpresa, atacaram-nos como se ladrões fossem agindo na calada da noite.


O que senhor esta afirmando é que essa nova era ou fase da humanidade e todo esse tumulto referido acima é causado pela ciência?
Minha hipótese é que as desordens e transformações, a crise em todos os setores sociais em que se debatem os homens de todas as partes do mundo, são devido a adoção, no trato de todos os problemas da vida, de processos, instrumentos, matérias e interesses engendrados pelos pesquisadores físicos em suas oficinas especializadas conhecidas pelo nome de laboratórios. O abalo provocado não se restringe, atualmente, tão-só ao terreno das crenças e praticas religiosas, pois fere todas as instituições criadas alguns séculos antes do advento da ciência moderna.


O que não consigo entender é como pode conviver o passado com o presente quando o senhor menciona as velhas instituições e a ciência? E qual relação tem tudo isso com a filosofia?
Primeiramente, entendo que o conflito entre ciência e as velhas instituições como a religião não terminou com uma vitória total de qualquer dos contendores, mas sim com um acordo recíproco, acordo pelo qual delimitaram as áreas de operações e jurisdição, ficando a cargo das instituições antigas que permaneceram com suas formas praticamente inalteradas, a supremacia nas questões morais e ideais. A medida que as aplicações da nova ciência iam provocando ser benéficas em muitos setores da vida real, foi-se acentuando uma tolerância com relação à ciência física e fisiológica, sob a condição de que não se imiscuíssem elas no altíssimo reino espiritual do Ser e sim s limitassem as questões materiais mais baixas. Este “acordo” conseguido a custa do artifício da divisão mencionada, gerou os dualismos que vieram, mais tarde, constituir a principal preocupação da filosofia moderna. Mas esse acordo fracassou pois se verificou em nossa atualidade agressivas e vigorosas campanhas daqueles que aceitam a divisão entre o “material” e o ‘espiritual” mas que ao mesmo tempo, sustentam que os representantes da ciência natural avançaram além dos limites que lhes eram permitidos, usurpando na pratica e com freqüência, na teoria o direito que as autoridades “superiores” possuíam de determinar atitudes e normas. De acordo com a opinião desses mesmos acerbados críticos, tal intromissão indevida deu causa ao atual estado de desordem, insegurança e incerteza, com todo seu séquito de angustias e conflitos.

Poderia esclarecer onde a filosofia poderia contribuir na superação desse conflito?
Sobre esse conflito, não sou movido por nenhum desejo de argüir diretamente contra essa opinião, talvez possamos até acolhe-la dentro do propósito de reconstruir a filosofia, como indicadora do ponto em que o problema se centraliza, pois ela aponta pelo contraste. Em relação a superação do conflito existem aqueles que preferem submeter a ciência a uma “autoridade institucional”, outra alternativa é colocar os velhos princípios e costumes intuídos sob domínio da pesquisa científica e seu juízo critico. Reside aqui o ponto onde a filosofia deve executar seu trabalho de reconstrução.

Senhor poderia ser mais específico?
Sim, cabe a filosofia ao meu ver, fazer em prol do desenvolvimento dos processos de pesquisa no âmago dos problemas humanos, e, portanto, dos da moral o mesmo que os filósofos dos últimos séculos fizeram pelo engrandecimento da indagação científica no campo das condições e aspectos físicos e fisiológicos da vida humana.


Se bem entendi essa filosofia em reconstrução seria ao mesmo tempo reconstrutora pois teria o papel de colocar na berlinda as perspectivas e ações morais e arcabouço sócio-cultural das velhas instituições?
Exato, mas me permita dizer mais a respeito, o ponto de partida da opinião aqui apresentada a respeito da reconstrução necessária a filosofia, considera de fato que a penetração e difusão da ciência equivale a uma invasão hostil nos domínios das instituições antigas, apesar de ser um ataque unilateral pois enfatiza a ação destruidora e omite os grandes benefícios prestados aos homens, mas não basta um balanço entre os malefícios e benefícios, afim de demonstrar que os malefícios predominam. O ponto elucidativo é que a premissa sobre que se apóia o presente ataque a ciência não tangencia que a ciência ao invés de operar a sós e na vácuo, opera dentro de uma situação institucional desenvolvida em dias pré-científicos. A ciência operam nos trilhos do costumes e pontos de vistas anteriores a ela mesma.


Poderia novamente o senhor exemplificar? Pois quando o senhor fala em crise pensei em pontos demarcados, mas agora esta a dizer de um entrelaçamento da atuante ciência no campo das instituições antigas.
Um simples exemplo mostra a imperfeição e distorção que resulta do fato de analisarmos a ciência em separado. O uso destruidor que se faz da fissão nuclear do átomo tornou-se como que um estoque de ataque à ciência. O que tanto se ignora e chega a ser negado é que a conseqüência destruidora ocorreu não somente durante uma guerra como também por força da existência da guerra, e está é uma instituição que precede em milhares de anos o aparecimento, no cenário humano, de qualquer coisa que se assemelhe a indagações científicas. O fato de, neste caso, serem as conseqüências destruidoras diretamente originadas das condições institucionais pré-existente, é demasiado obvio para exigir demonstração. Não prova que isso ocorre em toda parte e a qualquer tempo, mas é certo que nos põe em sobreaviso em relação ao dogmatismo irresponsável e indiscriminado que hoje é encontrado.

A ciência é difusa e penetrante mas não está já ocorrendo como o senhor disse anteriormente um avanço sobre áreas até então “sagradas” pelas velhas instituições. Isso não seria um processo inescapável?
O que tem destacada significação é que o desenvolvimento da pesquisa científica não está ainda amadurecido; não foi além dos aspectos físicos e fisiológicos dos interesses, preocupações e assuntos humanos. Em conseqüências, produz efeitos parciais e exagerados. As condições institucionais nas quais ela penetra e que determinaram as conseqüências humanas ainda não foram submetidas a qualquer pesquisa sistemática e séria que possa ser tida como científica.


A infiltração da Ciência nos domínios da moral não ira aumentar mais essa crise, como a filosofia pode influir nesse debate?
O que entendo sobre isso é que se a pesquisa imbuída de senso critico, tentar penetrar a fundo nas questões essencialmente humanas, aí toda vez que o fizer terá pela frente um corpo de prevenções, preconceitos, tradições e hábitos institucionais que consolidaram e se solidificaram no período pré-científico. O que devemos estar cônscios é que a moral é pré-científica pois é formada num período anterior ao advento da ciência e, também anticientifica pois nasce sempre forte oposição aos métodos que dentro da esfera moral estejam relacionadas as alterações. A filosofia precisa de meios de pesquisa para enfrentar esse estado de coisas, a perspectiva intelectual da categorias são de um tempo pré-científico e não servem como meios de pesquisa, e é ai que propomos o estabelecimento da reconstrução da filosofia. Reconstruir a filosofia segundo critério proposto, significa desenvolver, formar e produzir os meios intelectuais que progressivamente ira conduzir a pesquisa ao âmago dos fatos da presente situação no que estes tem de mais profunda a amplamente humano, isto é, moral.


Gostaria que o senhor clarificasse como se sucedeu o descompasso da filosofia com os problemas atuais?
Vamos começar respondendo essa pergunta afirmando que não houve entre a ciência e as velhas instituições uma integração, outrossim separação rigorosa e rígida de interesses, ou seja, e dois reinos. Convencionou-se que uma delas seria elevada e conseqüentemente investida de jurisdição suprema sobre a outra, considerada inerentemente baixa. A elevada foi dada o nome de espiritual, ideal e identificada com a moral. A outra de Física admitida em razão dos processos da nova ciência da natureza. Sendo baixa, era material: seus métodos se ajustavam somente ao que era inerente à matéria e ao mundo da percepção sensitiva, não ao da razão e da revelação. Permitiu-se a nova ciência natural um campo de operação sob condição de que atuasse somente dentro dos limites desse campo, cuidando apenas do que lhe fora concedido. Desse fato resultou, para a filosofia, a ninhada e o ninho dos dualismos que tem, de modo geral, formado os problemas da filosofia denominada moderna, como reflexo das condições culturais que explicam a separação básica operada entre o mundo moral e o físico. Entendo que assim como os filósofos dos últimos séculos levaram a efeito um trabalho útil e necessário ao desenvolvimento da pesquisa física, reserva-se agora aos seus sucessores a oportunidade e o desafio de desempenharem tarefa idêntica com relação a pesquisa moral. Os lamentos e duvidas sobre a moral e valores podem muito bem tomar forma de um desafio no sentido de se desenvolver uma teoria da moral que imprima orientação intelectual positiva a atividade do homem quanto ao desenvolvimento da moral pratica, isto é, do moral realmente efetiva.

Muitos são os que defendem controlar a ciência a partir de diretrizes morais e/ou éticas bem definidas, a fim de deter mal uso de seus poderes, isso não seria louvável?
Os que defendem tal ação são geralmente os mesmos que sustentam serem a ciência e a nova tecnologia culpadas pelos males atuais, dizem que o necessário é uma renovação moral igualmente efetiva, essa atitude é inegavelmente um grande avanço em relação aqueles que desferem puro ataque à ciência e á tecnologia, devemos sem duvida aplaudir esta nova atitude, pelo menos por todo tempo em que ela admita que o problema a ser resolvido não é outro senão a moral ou humano. Mas o calcanhar de Aquiles desse ataque é que esta maneira de encarar o problema sofre de serio defeito, o de aparentemente aceitar que possuímos, digamos, pré-fabricado, a moral que determina os fins para cuja consecução se prestariam para dar conta de gêneros diferentes de problemas. Porem muito mais importante é o divorcio entre essa demanda de meios para superar a crise e os fins, tais como, novos paradigmas e novos princípios morais. Penso que um empreendimento completo, isto é, uma finalização em consonância com sua própria direção e ritmo de progresso só pode ser levada a efeito em função de fins e padrões tão distintamente humanos que possam constituir uma nova ordem moral.

Professor Bertrand Russel e os 10 mandamentos da razão

O decálogo liberal por Bertrand Russel é uma guia dos querem ser livres mesmo sabendo que ser genuinamente livre e tolerante é estar disposto em aceitar que em qualquer momento podemos não estar do  lado da verdade e da razão.

“ Talvez a essência da concepção liberal possa ser resumida num novo decálogo, sem intenção de substituir o antigo mas, tão-só, de suplementa-lo. Os dez mandamentos que, como professor, eu gostaria de promulgar, poderiam ser enunciados da seguinte maneira:

1. Não te sentirás absolutamente certo de coisa alguma
2. Não pensarás ser vantajoso progredir escondendo as provas, pois estás virão à luz inapelavelmente
3. Não temerás o raciocínio, pois ele te vencerás
4. Quando encontrastes oposição, mesmo que seja a de teu marido ou de teus filhos, esforçar-te-ás por superá-las pela força dos argumentos e não pela autoridade, pois uma vitória que depende da autoridade é irreal e ilusória.
5. Não respeitarás a autoridade de outros, pois encontrar-te-ás sempre com autoridades contraditórias
6. Não usarás do poder para suprimir opiniões que julgas perniciosas, pois se o fizeres as opiniões suprimir-te-ão.
7. Não temerás ser excêntrico em tuas opiniões, pois toda e qualquer opinião hoje aceita já foi outrora excêntrica.
8. Encontrarás mais prazer na divergência inteligente do que na concordância passiva, visto que, se apreciares devidamente a inteligência, a primeira implica um acordo mais profundo do que a segunda.
9. Serás escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois mais inconveniente será quando tantares oculta-la.
10. Não sentirás inveja da felicidade daqueles que vivem num paraíso de insensatos, pois somente um insensato pensará que isso é felicidade.”

Extraído de A Autobiografia de Bertrand Russel 1944-1967, p.71, editora Civilização Brasileira.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Geografia virtual

Hoje qualquer pessoa com um computador conectado a internet pode encontrar facilmente um mapa digital, pode inclusive obter informações cartográficas sobre distância entre lugares e melhor caminho de viagem. Ultrapassamos a era da popularização e portabilidade dos mapas, entramos na era da geografia digital, o mundo está aberto através de uma pequena janela de computador.


Bancos de informações que constantemente são atualizados permitem mapas de diversas escalas, a própria maneira de ver um mapa mudou, ele é parte integrante de nosso cotidiano, carros e celulares estão integrados a GPSs (sistema de posicionamento global) e assim estamos atentos quanto o lugar que estamos e para onde devemos seguir, o GPS é a nova bússola, quem viaja constantemente de carro e deve enfrentar a complexidade ou caóticos sistemas viários de grandes cidades dependem dessa moderna bússola digital.

Uma verdadeira revolução se instalou no domínio cartográfico e geográfico, as ferramentas digitais estão disponíveis sob variadas formas e diferentemente da ideia de que o mundo ficou pequeno, temos a viva impressão que não só dependemos de um mundo geográfico real como também de uma geografia virtual.