sábado, 26 de maio de 2012

Estética e Geografia

Um pouco devido a algumas leituras teóricas sobre a arte como “A dimensão estética” de Herbert Marcuse, outro tanto pelo caminho que se abre quando se pensa numa ontologia em que a geografia se faz como parte do Ser e outro tanto, porem de forma bem mais prazerosa, simplesmente contemplando a musica, a pintura, a fotografia e outras expressões da arte, venho adquirindo a partir desses caminhos uma concepção de valor e de representação da arte quanto ao papel renovador que ela pode proporcionar na escola e para geografia escolar. Se durante um longo sono pensei a arte como um acessório, um simples deleite intelectual ou um tipo de universo paralelo ao mundo dito real. 

Tenho agora pensamento diverso disso, chego à conclusão que a obra artística é além de seus outros usos, também uma maneira de lidar com a realidade. É decerto uma atividade dessemelhante às ciências sistemáticas, mas é genuinamente uma busca pela descoberta ou redescoberta da realidade. Claro que a arte não aspira à universalidade, mas com ela se envolve, a arte não se preocupa em querer se distanciar sujeito e objeto, ao contrário, com esse par epistêmico se entrelaça, é com certeza um trabalho sistemático, exige pesquisa e geralmente é esgotante para o artista física e intelectualmente. 

É também verdade que as obras artísticas são plasmadas por visões pessoais, às vezes oníricas e sentimentais, mas não se desligam de certa reflexividade com o tempo e espaço que tanto os artistas como suas obras estão inseridos. Por isso, não vejo nenhum contrassenso em afirmar que o artista está dentro de uma geografia e de uma época e, também podem eventualmente expressar de modo estético essas geografias e o tempo de um modo também revelador. Expressar para mim nesse caso equivale ao sentido de se comunicar, entendo que artista através de seu trabalho artístico desenvolve um tipo de comunicação, pois além de querer se comunicar com o mundo, esta talvez antes de tudo, se comunicando consigo e com o outro. Sua obra em muitas ocasiões reflete como se sente perante seu entorno, como percepciona e interioriza sua geografia.

Essas experiências estéticas são públicas no sentido de compenetrar-se no outro, mexe com nossa maneira ver e sentir o real. Seja alterando o que vê (objetividade) quanto tornando visível aquilo que está invisível aos olhos, nesse ponto o psicanalista francês Lacan parece estar certo quando diz que “a arte poderia nomear o que não se deixa ver”, e a obra artística é uma forma de comunicar a realidade do mundo, dos homens e de suas geografias sob uma visibilidade poética, plástica, musical ou em outras diversas formas de expressão estética. 



"Urban Perspective" desenho de Paul Klee de 1928. Tenho admirado o trabalho desse grande pintor e desenhista, primeiro pelas "geografias" que encontro em suas obras e segundo, pela sua própria experiência pessoal, viveu num período conturbado: a Europa das primeiras décadas do século XX, inclusive perseguido pelos nazistas. É considerado um mestre das cores e do desenho. Nesse quadro vejo uma racionalidade cheia de simetrias, porém entrelaçada e densa, coisas próprias do urbano, se pensarmos que tal desenho foi feito em 1928, portanto visualiza a sedimentação de um espaço urbano sem curvas e tortuosidades, feito de linhas, concreto e cores mortas .Um olhar, uma perspectiva do sentido moderno de muitas das grandes cidades e metrópoles do século XX, ou seja, o sentido cúbico de ser urbano.

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