terça-feira, 10 de julho de 2012

geografia revelada por um artista fotógrafo





Será possível revelar uma geografia por meio da fotografia? A fotografia em geografia costuma ter um valor de instrumento de apoio a pesquisa, é raro usar esse recurso visual para captar um sentido de subjetividade dos lugares, ou para desconstruir certas imagens condicionadas. José Manuel Ramírez, antropólogo e fotógrafo espanhol realizou uma mostra de fotografias de vários rostos de diferentes etnias da china (han, uigures, mongóis, etc) fotos que ele registrou em sua viagem pelo país. Essa diversidade de rostos era a verdadeira geografia da China. Não aquela geografia padrão na mente dos ocidentais, como um monólito cultural e étnico. A grande maioria das pessoas ainda considera a China como uma cultura altamente coesa e quase homogênea etnicamente. Essa é a imagem que costuma ser mostrada na comunicação de grande massa ou que está naquela imagem vulgar associada ao "perigo amarelo", daquela superpopulação com os mesmos traços físicos, língua e costumes. A fotografia de Ramirez está desconstruindo uma ideia e, porque não dizer uma geografia. Uma reflexão geográfica é isso, constantemente buscar desconstruir falsas imagens sobre o mundo, mostrar as diferenças encobertas pelos discursos ou mesmo da ignorância geográfica. As vezes temos consciência do fato, mas precisamos buscar o choque para não cair na armadilhas da cômoda saturação cultural que vivemos. Essa é talvez uma das virtudes da arte também, nos tirar das imagens cômodas. 

Em geografia montamos mosaicos de fotos, geralmente fotos aéreas para realizar estudos geomorfológicos, detectarem áreas de risco, ou vezes demarcar áreas ambientais. Em quase todo caso, a fotografia está sendo usada como instrumento de garantia na identificação de uma materialidade (rios, construções, relevos, etc.). O que é muito importante cientificamente. No ensino da geografia quase sempre as fotografias tornam-se imagens ilustrativas de conteúdo, meros acessórios em livros didáticos, o que é ao meu ver uma subutilização. Um passo um pouco mais adiante disso é o conteúdo fotográfico da mítica revista National Geographic, nesta caso a fotografia é mais que ilustração ela é usada para revelar uma dimensão da beleza natural ou chocar nossa percepção, seu propósito é ir além da ilustração, ela quer mexer com nossa qualidade perceptiva sobre o mundo em que vivemos.   

Penso que a fotografia carece de mais aprofundamento por parte de nós geógrafos, na direção de provocar outros sentidos sobre o mundo que vemos. 

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